A importância de ler as entrelinhas

O enfoque principal do post do jornalista Fernando Rodrigues são as viagens que os magistrados brasileiros fazem para participar de eventos às custas de terceiros - onde pode estar incluído eu, você, quem sabe -, mas o que me chamou atenção no texto foi o que está nas entrelinhas destes eventos.

O Fernando Rodrigues levanta dois exemplos, mas me detenho no primeiro, mais rico em detalhes. Trata-se do IX Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente, que inicia nesta terça, em Porto de Galinhas, Pernambuco. Setecentas pessoas são esperadas pela Associação Brasileira do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), grande parte oriunda do meio jurídico.

Oito ministros do Superior Tribunal de Justiça, segundo Fernando Rodrigues, confirmaram sua participação no evento, que abordará questões ligadas ao direito ambiental. Um tema nobre, sem sombra de dúvida, que merece ser discutido pelos congressistas, inclusive, num local paradisíaco. O problema está nas entrelinhas.

Ao espiar os parceiros do Congresso, se verifica que o patrocinador master é o Suape, complexo industrial portuário localizado em Ipojuca - município próximo à praia de Porto de Galinhas, onde acontecerá o evento - que movimenta mais de 5 milhões de toneladas de carga por ano, com destaque para os granéis líquidos, como derivados de petróleo, produtos químicos e álcoois, entre outros.

Olhando na linha abaixo, descobre-se que entre os patrocinadores especiais está o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), entidade que representa, nacionalmente, as principais companhias distribuidoras de combustíveis e lubrificantes.

Patrocinadores, com certeza, preocupados e com muito a falar sobre o meio ambiente, como lembra o Fernando Rodrigues no post em seu blog.

Dirá você: E o que tem de mais um complexo portuário e as principais companhias distribuidoras de combustíveis e lubrificantes patrocinarem um evento sobre direito ambiental que contará com os principais magistrados do País?

Nada, realmente.


Em tempo: Sobre as viagens feitas pelos magistrados brasileiros, está na Folha Online: Gastos do Supremo Tribunal Federal com passagens aéreas crescem 320% em cinco anos.


Imagem: Passeio virtual disponível no site do Suape.

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